R.Cássia Púlice
Questões sobre a Escola.

Rita de Cássia Púlice Vieira


Entre os muitos problemas pelos quais perpassa nossa educação, alguns deles em maior ou menor intensidade, têm prioridade na pauta do debate que abrange o currículo escolar. Em busca de soluções, discute-se, entretanto, a realidade; a organização; a essência; a pluralidade; a formação, o presente e o futuro das escolas, e de seus alunos. Não existe ainda um caminho mágico, vias de regra, a percorrer, mas sim um debate contínuo, um querer - fazer de cada um dos interessados.
A maioria das escolas, hoje, está situada em grandes centros urbanos que concentram uma gama ainda maior de sérios problemas. Todos esses problemas, que não cabem enumerá-los ou destrinchá-los aqui, envolvem diretamente a criança, sujeito principal, que ocupa e necessita desse espaço - tempo para o seu desenvolvimento. A escola deve se preparar e se organizar, a priori, dentro do espaço urbano no qual está localizada, analisando implicitamente as relações sociais que influenciam esta organização social.
A escola deve procurar valorizar a experiência cotidiana de seus alunos, respeitando suas diferenças, observando suas necessidades dentro e fora do ambiente escolar, objetivando efetivamente os interesses de cada um. Deste modo, é imprescindível que a escola repense seus espaços internos adaptando-os, tornando-os prazerosos, úteis, para que a criança em seu tempo, dentro de cada faixa etária (primeira infância até a adolescência), possa sentir-se amparada e estimulada em seu desenvolvimento.
De uma maneira geral há muito que fazer e modificar na educação, para que possa beneficiar o ambiente escolar como espaço físico, político, de apreensão do conhecimento, e cultural. O ponto principal é valorizar o ensino – aprendizagem como um bem maior, e não como mercadoria de troca para o mercado de trabalho. Também é possível acompanhar a evolução tecnológica – científica, utilizando-a para aquisição de saberes em prol do desenvolvimento humano, além de qualificar os profissionais da área de educação - professores, pedagogos, gestores - permitindo-lhes melhores condições de atuação e de resultados.
Se a escola teve, em seu passado, diversos problemas a resolver para que chegássemos ao presente com algum avanço, hoje, os enfrentamos com as diferenças históricas proporcionais, buscando construir um futuro mais ameno, sólido e qualitativamente melhor para o desenvolvimento das nossas crianças, e a formação plena do cidadão.
R.Cássia Púlice

“A BELA E A FERA”
Walt Disney

Rita de Cássia e Shayna.

O filme (desenho) de Walt Disney retrata a história de dois seres completamente diferentes que se encontram e se apaixonam, procurando transmitir a máxima dos opostos que se atraem, ou que a verdadeira beleza está no interior e não na aparência das pessoas.
A história transcorre em um vilarejo do interior de Paris e conta a saga de um belo e rico príncipe, porém mimado e grosseiro que, por seu egoísmo e arrogância ao desprezar e negar uma rosa oferecida por uma velhinha pobre, de má aparência, é surpreendido e transformado em Fera por, na verdade, uma linda feiticeira, e seus empregados em móveis e utensílios domésticos. Para que o feitiço seja quebrado o príncipe deverá conhecer o amor, ou seja, aprender a amar e ser amado no prazo de 21 anos, do contrário viverá eternamente como Fera, enclausurado em seu castelo.
Nesse pacato vilarejo de pessoas simples e vida rotineira, afastado do castelo da Fera, mora Bela, filha de um velho inventor, moça bonita, perspicaz, inteligente, afetuosa, que se interessa por livros. É considerada pelos moradores do vilarejo uma moça esquisita e metida a inteligente, assim como seu pai é visto como um velho “matusquela”, pois eles não aceitam e discriminam o que for diferente. Nele também mora Gastão, um jovem considerado o mais bonito do vilarejo, e é, por conseguinte um tanto quanto machista, autoritário, orgulhoso e egocêntrico, tem o firme propósito de se casar com Bela a qualquer custo, por achá-la compatível a sua beleza.
Bela se torna prisioneira da Fera ao tentar libertar seu pai, que é preso ao se esconder no castelo tentando refugiar-se de lobos ferozes. Este encontro entre a Bela e a Fera, começa a promover mudanças no interior da Fera, que se encanta com a beleza exterior e interior de Bela. Essa beleza é realçada quando Bela pede para ficar prisioneira no lugar de seu pai, abrindo mão de seus sonhos e se pondo a mercê da horrível Fera. Este a priori, movido por interesses próprios, aceita a troca buscando favorecer a quebra do feitiço.
Aos poucos, enquanto prisioneira, Bela também consegue identificar traços de bondade e beleza no interior da Fera, despertando com isso um grande interesse e maior afinidade entre os dois, até se apaixonarem. Assim transcorre a história, até o desfecho em que Gastão toma conhecimento da existência da Fera e por ciúmes tenta matá-lo, instigando os moradores a rumarem em direção ao castelo para destruí-lo.


Como todos os filmes de Walt Disney, esse também é cheio de encantos e magia, com lindos personagens, bela fotografia, cores deslumbrantes, um musical encantador, enfim, um clássico que contagia desperta e prende o interesse de quem o assiste, até mesmo os adultos. Só mesmo assistindo uma segunda vez, com “outros olhos”, podemos perceber que o filme discorre entre vários temas enfrentados e combatidos no cotidiano, como a intolerância, o desrespeito, o desprezo, o preconceito, a indiferença, a valoração do poder e da riqueza, entre outros.
O vilarejo é composto por pessoas humildes, pobres, de peles claras e felizes, segundo seus interesses. Entretanto, destaca-se o fato de não haver sequer um morador negro, e serem todos preconceituosos. Bela e seu pai são exemplos desse preconceito, ele por ser um inventor e estar sempre procurando modificar e melhorar as coisas, ela é discriminada por gostar de ler, por ser inteligente e não se encaixar no perfil dos moradores, os quais não buscam mudanças e se comprazem com a mesmice. E mesmo tão inteligente, à frente de seu tempo, é uma sonhadora, e com base nos livros que lê ainda deseja encontrar seu príncipe encantado. Algumas cenas reforçam a contradição da idéia central de um conto infantil onde há um príncipe encantado perfeito. O príncipe, antes de ser enfeitiçado já denotava um caráter medíocre, era mimado, egoísta e grosseiro, além de mal educado, o que vem a ser amenizado muito tempo depois da sua transformação em Fera.
Gastão é o caçador do vilarejo, um belo jovem egocêntrico que não desperta o interesse de Bela, tem tantos defeitos quanto o príncipe, mas é pobre. Trata seu empregado, um ser subserviente, com desdém, humilhando-o e agredindo-o o tempo todo, uma violência que, na verdade, não deveria ser ressaltada. Ele é manipulador e usa de artifícios desabonadores como chantagem, corrupção, entre outros, para tentar se casar com Bela. Artimanhas muito utilizadas, infelizmente, por muitas pessoas na vida real.
A história mostra que os personagens têm tantos defeitos morais quanto às pessoas do cotidiano real, pois fazem pré-julgamentos, agem com mesquinharia e interesses próprios, pensam primeiramente em si mesmos e não aceitam o diferente. A beleza física pressupõe lugar de destaque e respeito impondo padrões, dessa maneira, por sua forma horrível e feia a Fera se retrai, afastando-se das pessoas, vivendo em clausura, como fazem ou são obrigados a fazer os que são excluídos. Quando descoberto, o príncipe/Fera é rechaçado, agredido e humilhado pela população, problemas pelos quais passam as pessoas consideradas diferentes na sociedade real. Mas, após solucionarem os problemas, e obterem a vitória do amor entre a Bela e a Fera, fica a mensagem que, devemos procurar ver além das aparências, respeitar as diferenças, pois dentro de uma “fera” pode existir sentimentos e valores que devem ser considerados e enaltecidos para a evolução do ser humano.


R.Cássia Púlice
PLANO DE AULA

Disciplina: Língua Portuguesa Nível: 5º ano
Tema: Desenho animado como instrumento pedagógico
Tempo Estimado: 2 aulas

Objetivos:
• Construir e expressar idéias / opiniões de forma oral por meio da exibição do filme.
• Desenvolver a produção de textos em linguagem escrita, estimulando a criatividade através do lúdico.
• Aprimorar a capacidade crítica e comunicativa durante debate.
• Propiciar a reflexão e análise de questões / problemas do cotidiano.

Conteúdo:
• Produção Textual, oral e escrita, baseados na exposição do filme “A Bela e a Fera”.
• Interpretação e dinâmica de grupo.
• Discussão sobre valores morais e preconceito.

Ações Didáticas:
1º Momento:
• Exibição do filme “A Bela e a Fera”.
• Explanação sobre a questão do Bullying e do preconceito, com discussões sobre determinados momentos do filme que demonstrem o assunto a ser abordado, abrangendo os devidos questionamentos e esclarecimentos, tais como:
• Se já sofreram ou conhecem alguém que tenha sofrido algum tipo de discriminação?
• Como reagiram?
• O que sentiram?
• Por que não devemos discriminar?

2º Momento:
• Dividir a turma em grupos para que reescrevam um novo final para o filme. (Determinados pontos que acharem necessário mudar)
• Fazer uma dramatização destes finais.
3º Momento:
• Formar um grande e único grupo para o debate final, no qual serão discutidas as questões sobre preconceito (questões dos negros, deficientes físicos, índios, gordos, magros), valores morais (respeito, tolerância, compreensão, bondade etc.), Bullying (apelidos, xingamentos etc.), exclusão e inclusão, e os textos finais idealizados pelos alunos.

Recursos:
• Aparelho de TV
• Aparelho de DVD
• DVD (Filme a ser apresentado)
• Cadernos, lápis, borrachas
• Cartolina e lápis de cor, para cartazes e máscaras (dramatização)

Avaliação:
Levará em conta a:
• Interação / Participação do aluno
• Produção Textual / Gramática
• Compreensão Leitora

Referências:

GIROUX, Henry A., A Disneyzação da Cultura Infantil, In: SILVA, Tomaz Tadeu; MOREIRA, Antonio Flavio (orgs.). Territórios contestados. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 49-81
“A Bela e a Fera”, animação de Walt Disney Pictures.
R.Cássia Púlice
Henry Giroux

Henry Giroux nasceu em 18 de setembro de 1943, em Providence, Rhode Island. Filho de Armand e Alice Giroux. Americano crítico cultural recebeu seu doutorado em 1977, da Carnegie – Mellon. Tornou-se professor de Ensino na Universidade de Boston, 1977/1983.
Em 1983, se tornou professor em Educação e renomado estudioso em residência na Miami University em Oxford, Ohio, onde também atuou como diretor do Centro de Educação e Estudos Culturais.
Henry Giroux ajudou a desenvolver a teoria crítica sobre currículo, destacando-se como figura importante na teoria da educação radical, expandido a idéia de uma “Pedagogia de fronteira”. Professor nos E.U.A., um dos maiores representantes da teoria crítica educacional da atualidade, enquanto educador aborda questões de importância teórica, política e pedagógica, voltando-se para áreas que englobam a problemática da cultura popular, assim como nas artes de um modo geral, porém, sempre em conexão com a questão pedagógica e curricular.
Seus últimos trabalhos continham, de forma limitada, contribuições do pós-modernismo e pós-estruturalismo, centrando suas críticas à racionalidade técnica e utilitária, assim como o positivismo das perspectivas dominantes sobre currículo.
Na visão de Giroux as perspectivas dominantes ao se concentrarem em critérios de eficiência e racionalidade burocrática, deixavam de levar em consideração o caráter histórico, ético e político das ações humanas e sociais; particularmente do conhecimento. E como resultado desse apagamento, contribui para a reprodução das desigualdades e das injustiças sociais.
Giroux se inclinava, nesse momento, para uma posição claramente tributária do Marxismo, evitando, ao mesmo tempo, uma identificação com a rigidez economicista de certos enfoques marxistas.
No momento em que Giroux começa a escrever já estavam em circulação as teorizações que teriam, depois, tanta influência sobre a teoria educacional crítica:
• A crítica da ideologia de Althusser;
• A crítica cultural de Bourdieu e Passeron;
• O princípio da correspondência de Bowles e Gintis.
Giroux não estava satisfeito com a rigidez estrutural e com as conseqüências pessimistas dessas teorizações. Concentrando boa parte do seu trabalho inicial de críticas a essas perspectivas. Nesse modelo, o que ocorria na escola e no currículo estava determinado de antemão pelo que acontecia na economia e na produção.
Ele também criticava as vertentes da crítica educacional da fenomenologia e os modelos interpretativos de teorização social. Uma das correntes do movimento de reconceiptuação da teorização curricular estava centrada nesse estudo fenomenológico.
Giroux critica essas análises por não darem suficiente, ou nenhuma, atenção às conexões entre, de um lado, as formas como essas construções se desenvolvem no espaço restrito da escola e do currículo e, de outro, as relações sociais mais amplas de controle e poder. Para Giroux a escola e o currículo devem ser locais onde os estudantes tenham a oportunidade de exercer as habilidades democráticas da discussão e da participação. O currículo é um local onde, se produzem e se criam significados sociais.
R.Cássia Púlice
Indagações sobre Currículo – Educandos e Educadores seus direitos e o Currículo.
Miguel Gonzáles Arroyo


Neste texto, o autor procura refletir a respeito da organização curricular, da importância do trabalho dos educadores, a forma de aprendizado e o aprender dos educandos. Ele ressalta a necessidade de um aprofundamento na analise do currículo em face ao contexto atual, sendo esse o momento oportuno para que seja feito um debate envolvendo os questionamentos referentes ao mesmo, para que modificações sejam feitas em prol da formação plena e da cidadania.
Assim como Elvira Souza Lima, no texto “Currículo e Desenvolvimento Humano”, Arroyo evidencia as mudanças pelas quais atravessa nossa sociedade, a posição do sujeito em sua conformação social, cultural e profissional e a redefinição da sua identidade pessoal. Tais mudanças sugerem novas práticas, novos métodos e um novo olhar pedagógico para a formação humana em sua caminhada social, política e cultural.
As escolas vêm procurando adaptar-se a essas mudanças gradativamente, porém mantendo ainda um estilo padrão em seus currículos. As antigas fórmulas continuam sendo repetidas constituindo novos problemas. O autor critica a mercantilização da educação, citando que trabalho é ainda a fonte principal de onde e para onde o currículo está voltado, e o conhecimento está embasado nas perspectivas do mercado capitalista. Prepara-se o educando para o “uso” criterioso desse mercado de trabalho, em detrimento ao conhecimento pleiteado para além da formação do indivíduo, ou seja, do homem como ser social, do cidadão.
O trabalho é uma das bases fundamentais para a formação do homem e para tanto, deve fazer parte da estrutura curricular, sem, no entanto, suplantar conhecimentos e saberes que verdadeiramente preparam e enriquecem o homem dentro das relações sociais.
Debater o currículo é questionar os moldes da escola, com suas regras e diretrizes sedimentadas em valores hierarquizados, é também discutir o trabalho do educador que reproduz obrigatoriamente as imposições pautadas na organização curricular. É reavaliar o processo ensino-aprendizado, a apreensão dos conhecimentos adquiridos e administrados. Priorizando solucionar as dificuldades e variáveis do aluno - educando, respeitando seu tempo, espaço e identidade, reconhecendo as respostas ao trabalho do educador.
R.Cássia Púlice
Indagações sobre Currículo – Educandos e Educadores seus direitos e o Currículo.
Miguel Gonzáles Arroyo


Tópicos:

•Há um clima propício para repensar os Currículos.

•A organização curricular afeta a organização de nosso trabalho e dos educandos.

•Necessidade de programar encontros, estudos e oficinas para indagar o Currículo.

•As identidades pessoais vêm sendo redefinidas. Refletem-se na forma de ver os educandos, o conhecimento, os processos de ensinar – aprender.

•No nosso sistema educacional, a estrutura das escolas é rígida, disciplinada, normatizada, segmentada, em níveis, séries, estamentos e hierarquias.

•A organização do nosso trabalho é condicionada pela organização escolar.

•Cerne das indagações: repensar e superar lógicas estruturantes dos currículos que afetam a estrutura do trabalho.

•O trabalho coletivo é uma forma de trazer o currículo para o cotidiano profissional.

•Há novas sensibilidades nas escolas e na docência em relação aos educandos.

•O currículo vem conformando os sujeitos da ação educativa – docentes e alunos.

•Um olhar crítico sobre essas imagens é um caminho para uma postura crítica perante os currículos.

•A visão reducionista marcou de 1979 a 1980, como hegemônica e ainda está presente em muitas escolas.

•Os alunos são vistos e preparados como empregáveis, como capital humano.

•É urgente recuperar o conhecimento como núcleo fundante do currículo e o direito ao conhecimento como ponto de partida para indagar os currículos.

•Reconhecer o direito ao trabalho e aos saberes sobre o trabalho terá de ser um ponto de partida para indagar os currículos.

•O referente ético do direito nos leva a equacionar no currículo o direito aos saberes sobre o trabalho, sobre a produção da existência, dos bens, da vida.

•Outra imagem presente e determinante da docência e da administração escolar é ver os alunos como desiguais perante o conhecimento.

•Dados revelam que altas porcentagens de alunos que não atingem o padrão de normalidade são classificados como incapazes.

•É preocupante que, por décadas, continuemos incapazes ou com medo de questionar nosso olhar que classifica os alunos como desiguais perante as capacidades de aprender.

•Muitos coletivos docentes dedicam tempos ao estudo dessas questões.

•Repensar os currículos à luz dos avanços da ciência sobre os complexos processos do aprender humano.

•Repensar as velhas crenças à luz dos critérios éticos.

•Outra forma de desconstruir a crença na desigualdade de capacidades de aprender confrontá-la com o direito igual de todos à educação, ao conhecimento e à cultura.

•As lógicas do aprender humano passam a ser as determinantes do ordenamento dos conteúdos do ensinar.

•Os currículos organizam conhecimentos, culturas, valores, técnicas e artes a que todo ser humano tem direito.

•Repensar os currículos reconhecendo os educandos como sujeitos de direito à formação plena.

•Organizar a escola, os tempos e o conhecimento, culturas e valores.

•As escolas não são um espaço tranqüilo onde verdades verdadeiras são repassadas, mas questionada
R.Cássia Púlice
Este semestre discutiremos e estudaremos sobre Currículo em "Escola Espaço Político e Pedagógico III".
Nosso primeiro texto de referência: Indagações sobre Currículo - Currículo e desenvolvimento humano, de Elvira Souza Lima.

Minhas reflexões:


A escola cumprindo sua função educadora e transformadora tem procurado ao longo dos anos acompanhar o progresso que, inevitávelmente acontece nas sociedades, muito embora, por falta de condições e uma série de grandes problemas muito fique a desejar.  "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", essa máxima de Lavoisier nos remete à necessidade de transformações que perpassa nossa educação em função dos avanços científicos, tecnológicos e no modo de vida do ser humano.  Mediante a isso indagações são feitas sobre o Currículo, em prol de melhorias relevantes para a sociedade e, para o próprio desenvolvimento humano.
De acordo com Lima (2007, pg.18), o Currículo é um instrumento de formação humana, devendo visar à humanização de todos, introduzindo sempre novos conhecimentos. Esse instrumento deve ser projetado a partir das necessidades reais dos alunos, das suas experiências no cotidiano, da realidade social, da orientação dos professores e dos princípios gerais da prática pedagógica. O Currículo é um projeto, documento, e um instrumento poderoso para àqueles que se predispõem nessa luta incansável em busca de melhorias e progressos na educação.
Com ênfase em conhecimentos teóricos, científicos, artísticos e culturais, o Currículo deve ser abrangente respeitando as diversidades, as diferenças e as transformações na conformação social, política e cultural. A autora cita que, para haver o progresso humano deve-se ter uma relação dialética entre Biologia e Cultura chegando-se ao processo de humanização, referindo-se ao desenvolvimento cultural da espécie.
A cultura é fator de extrema importância nesse desenvolvimento, segundo Lima (2007, p.18) “O desenvolvimento cultural é função do momento histórico pelo qual passa a humanidade e do quanto cada país participa do acervo de cultura, tecnologia, ciências e bens disponíveis a um momento dado.” A criança, o jovem, o cidadão, tem em sua cultura, sua identidade, sua formação prévia e a constituição da função simbólica, sendo por meio dela que o ser humano pode construir significados e acumular conhecimentos. (Lima, 2007, p.27)
Tanto a escola, quanto seus gestores e educadores devem preparar-se para auxiliar seus alunos na aprendizagem, na evolução educacional. Para tanto, devem também adquirir novos conhecimentos e munirem-se de instrumentos pedagógicos que lhes dêem suporte para tal finalidade. Não só o Currículo, mas todo o ambiente escolar deve estar em sintonia para que haja interesse e desperte a curiosidade para o aprendizado. Lima cita que: “A aprendizagem é um processo múltiplo, isto é, a criança utiliza estratégias diversas para aprender, com variações de acordo com o período de desenvolvimento. Desta forma, todas as estratégias são importantes e não são mutuamente exclusivas.” (2007, p. 34 e 35)
Acompanhar a evolução humana e participar desse processo de desenvolvimento como atores, colaborando por meio do ensino, instigando a apropriação do conhecimento, é fundamental para o trabalho pedagógico.

 

 
R.Cássia Púlice
Depois das festas de Natal, Ano Novo e Carnaval, o mês de Março chegou trazendo o reinício das aulas, muita alegria, e as esperanças renovadas.


É hora de pôr as mãos na massa!



Para muitos esse é um momento de felicidade, expectativas, de reencontrar amigos e construir novas amizades.






Para outros, no entanto, a preocupação está em primeiro lugar...





O principal, na verdade, é que estamos todos juntos: alunos e professores. Para mais um ano de muita ação, preocupação, leitura e trabalhos!




Mãos à obra!!!
R.Cássia Púlice
Esse semestre, a meu ver, foi excepcional!
Unir o trabalho em sala de aula à leitura e análise dos textos, discutindo o planejamento pedagógico, a implementação do ensino fundamental de nove anos, o projeto político-pedagógico, a avaliação, e as várias experiências no âmbito da educação, ampliou nossos conhecimentos, reavivando interesses, alicerçando o saber. Evidenciar os aspectos educacionais junto ao professor e colegas de turma foi bastante proveitoso, mas trabalhar com o Blog (Portfólio Eletrônico) na área de educação foi algo realmente novo para mim.
Com pouquíssimo conhecimento em informática e com o tempo bastante reduzido para aprender, enfrentei algumas dificuldades tentando concretizar meu intento. A curiosidade e a vontade de efetuar um bom trabalho fizeram com que me dedicasse ao máximo e conseguisse realizar a maior parte do pretendido.
Adquiri novos conhecimentos, dentre eles como produzir um vídeo para postá-lo no YouTube e no Blog, algo super interessante. Tenho ainda muito que descobrir nesse vasto mundo tecnológico, o caminho é longo, mas o interesse é maior.
Todos esses instrumentos maravilhosos que somam conhecimento ao trabalho pedagógico acrescentando qualidade ao mesmo devem ser experimentados, e serão sempre bem-vindos em nossa luta para um ensino melhor.
Só tenho a agradecer ao nosso mestre, por nos proporcionar esta oportunidade, e aos colegas que participaram desta empreitada.
Que possamos partilhar e trilhar juntos o conhecimento nos próximos semestres, com o carinho da amizade e o interesse no bem comum.
A construção do saber com qualidade é de nossa inteira responsabilidade.
R.Cássia Púlice
INOVAÇÕES E PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO:
UMA RELAÇÃO REGULATÓRIA OU EMANCIPATÓRIA?

ILMA PASSOS ALENCASTRO VEIGA*

Neste artigo a autora demonstra a necessidade de um projeto político inovador, que envolva tanto a educação básica quanto a superior, de modo a garantir o acesso e desenvolvimento de crianças, jovens e adultos na sociedade, como parte fundamental no exercício da cidadania. Ela discute a inovação e projeto político-pedagógico fazendo a distinção entre ação regulatória ou técnica e ação emancipatória ou edificante.
A inovação regulatória significa assumir o projeto político-pedagógico como um conjunto de atividades que vão gerar um produto: um documento pronto e acabado, deixando de lado o processo de produção coletiva, além de negar a diversidade de interesses e de atores que estão presentes. Na emancipatória, há uma articulação entre inovação e projeto político, integrando o processo com o produto, onde o resultado final é um produto inovador que provocará também ruptura epistemológica.
Veiga ressalta que a grande preocupação do sistema educativo está relacionada à melhoria na qualidade da educação pública, a qual se expressa na educação da pessoa em si, enquanto cidadã, e na sua preparação para o mercado de trabalho.
A inovação regulatória ou técnica tem bases epistemológicas no caráter regulador e normativo da ciência conservadora, deixando de lado os que inovam, ou aqueles que se interessam em introduzir algo efetivamente diferente dentro do sistema. Essa inovação tem o critério de provocar mudanças, porém não produz um projeto pedagógico novo, faz parte do mesmo sistema, modificado temporária e parcialmente. São diretrizes, formulários, fichas, parâmetros, critérios etc., um conjunto de ferramentas propostos em nível nacional sem a participação de todos os interessados. Nesse sentido, o projeto político-pedagógico está voltado para a burocratização da instituição educativa, apenas como cumpridora de normas técnicas e mecanismos reguladores.
Referindo-se ao projeto político-pedagógico como inovação emancipatória ou edificante a autora assinala que não se pode confundi-lo com reforma, evolução ou mudança, pois suas bases epistemológicas estão alicerçadas no caráter emancipador e argumentativo da ciência emergente, a qual procura uma maior comunicação com os saberes locais e diferentes atores, realizando-se num contexto histórico e social. Sendo de natureza ético-social e cognitivo-instrumental, visa à eficácia dos processos formativos sob a exigência da ética, trazendo consigo a possibilidade de alunos, professores, servidores técno-administrativos unirem-se e separarem-se de acordo com as necessidades do processo. Dessa forma, é um processo de dentro para fora, além de lutar contra os mecanismos de poder e as formas pré-estabelecidas.

Assim como Gadotti, Vasconcelos; Azevedo; Corte; Cunha; Ribeiro e Gusmão, a autora enfatiza a necessidade de um projeto político-pedagógico bem estruturado, participativo, inovador, construído em bases éticas onde a preocupação maior seja a formação do cidadão. Os autores têm em conjunto o ideal de um projeto político compromissado com a sociedade, buscando modificar a realidade cultural com uma gestão democrática potencializada pelo trabalho colaborativo, construindo novos valores e novos caminhos, com perspectivas de uma educação de melhor qualidade para todos.
R.Cássia Púlice
OS DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO E AVALIAÇÃO DO
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

VASCONCELOS, Janilse Fernandes; AZEVEDO, Maria Antonia; CORTE, Marilene Gabriel Dalla; CUNHA, Gracilliani Rosa - Centro Universitário Franciscano/UNIFRA

O Texto reafirma a necessidade da prática eficiente de um projeto político pedagógico nas escolas correlacionado ao Regime Escolar, fortalecendo o papel dos professores, gestores e de toda comunidade para um bem comum.
Demonstra a importância da educação infantil na contemporaneidade e as formas como foi tratada historicamente, citando a Constituição de 1988 na qual a Educação Infantil passa a ter relevância nas políticas públicas. Assinala ainda reflexões apresentadas pelos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (2006, p.31-34), como aspectos básicos nesse trabalho:
1. As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil devem contemplar princípios éticos, políticos e estéticos.
2. As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil promovem as práticas de cuidado e educação na perspectiva da integração dos aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo/lingüísticos e sociais da criança, entendendo que ela é um ser completo, total e indivisível.
3. As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil consideram que o trabalho ali desenvolvido é complementar à ação da família, e a interação entre as duas instâncias é essencial para um trabalho de qualidade.
4. As propostas pedagógicas explicitam o reconhecimento da importância da identidade pessoal dos alunos, suas famílias, professores e outros profissionais e a identidade de cada unidade educacional nos vários contextos em que se situem.
5. As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil consideram a inclusão como direito das crianças com necessidades educacionais especiais.
6. As propostas pedagógicas são desenvolvidas com autonomia pelas instituições de Educação Infantil a partir das orientações legais.
É ressaltada a importância da participação de todos, profissionais, alunos e comunidade no processo de construção do conhecimento em sintonia com a escola, assim como a integração entre o Projeto Político Pedagógico (PPP) e o Regimento Escolar (RE), retomando a concepção de Padilha (apud GADOTTI, 2003), em que a construção do PPP da escola necessita de princípios norteadores e estratégias concretas para sua operacionalização, tais como:
• Necessidade de um tempo maior para a consolidação da implementação do PPP (médio e longo prazo);
• Permanente parecer avaliativo e redimensionamento das propostas;
• Ter clareza quanto as reais necessidades e expectativas apontadas na avaliação;
• Buscar qualificar o trabalho dos profissionais da escola nos setores administrativos, pedagógico e financeiro;
• Ter clareza de que o PPP não é documento fechado, pois deve ser suscetível às mudanças necessárias durante sua concretização.
Essas afirmativas fundamentam a certeza de que o projeto político pedagógico deve fazer parte de uma ação lúcida e bem estruturada, por ser um instrumento de grande poder para a transformação almejada pela escola. Os autores concluem que:
1. A construção e a implementação do PPP são instâncias diferentes, mas que estão correlacionadas, exigindo dos profissionais de ensino da escola uma ação reflexiva sobre o mesmo;
2. O PPP construído e implementado pela comunidade escolar retrata uma gestão democrática e o real papel da escola;
3. Projeto Político-Pedagógico é processo permanente de reflexão e transformação da realidade escolar.
4. A escola deve ser um espaço comprometido com os interesses sóciopolíticos dos cidadãos;
5. O PPP não pode ser "construído" na sala do diretor(a) com a coordenação pedagógica e o orientador(a) educacional e simplesmente apresentado a comunidade educacional;
6. A equipe gestora tem papel fundamental na construção do Projeto Político- Pedagógico da escola.

Para os autores do texto, assim como para Gadotti, Veiga; Freire; Libâneo; Souza & Carnielli; Alarcão; Padilha; Morin; Petraglia, Marques e outros autores, a necessidade da organização escolar, o interesse dos governantes, a participação de todos, e um PPP eficiente poderão fazer a diferença que se espera para uma Educação Infantil de qualidade em nosso pais.
R.Cássia Púlice
O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA
na perspectiva de uma educação para a cidadania
Moacir Gadotti (*)

Gadotti ao discutir o tema, questiona o que é projeto? O que é projeto político-pedagógico da escola? Orienta-nos sobre a importância desse projeto e a relevância para o bom funcionamento de uma instituição escolar.
A escola passa hoje por um momento de extrema importância no contexto educacional. Suas funções abrangem um somatório de responsabilidades que a cada dia vão se expandindo, porém, podemos sintetizá-los num único e universal patamar, a formação plena do cidadão. E é nesse contexto que a escola procura reorganizar-se procurando alcançar os objetivos e metas traçados, norteados por um consistente projeto político.
Segundo Gadotti, “Um projeto político-pedagógico não nega o instituído da escola que é a sua história, que é o conjunto dos seus currículos, dos seus métodos, o conjunto dos seus atores internos e externos e o seu modo de vida.”, significando também que a escola deve estar preparada política e socialmente para as exigências da nova sociedade que está sendo constituída.
No projeto político a necessidade de uma gestão autônoma e democrática é uma das prioridades para que o processo participativo seja estimulado e possa render benefícios para o todo. Gadotti cita duas razões para que se implemente esse tipo de gestão: a primeira porque a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela deve dar o exemplo, a segunda porque a gestão democrática pode melhorar o que é específico da escola, isto é, o seu ensino. Obviamente este processo requer mudanças e lida acima de tudo com limitações e obstáculos, dentre eles:
a) a nossa pouca experiência democrática;
b) a mentalidade que atribui aos técnicos e apenas a eles a capacidade de governar e que o povo incapaz de exercer o governo;
c) a própria estrutura de nosso sistema educacional que é vertical;
d) o autoritarismo que impregnou nosso ethos educacional;
e) o tipo de liderança que tradicionalmente domina nossa atividade política no campo educacional.
Enfim, um projeto político-pedagógico da escola apoia-se:
a) no desenvolvimento de uma consciência crítica;
b) no envolvimento das pessoas: a comunidade interna e externa à escola;
c) na participação e na cooperação das várias esferas de governo;
d) na autonomia, responsabilidade e criatividade como processo e como produto do projeto.
O projeto político além de contar com a dedicação dos que o elaboram, devem também contar com a ousadia, com a obstinação, com uma ação interdisciplinar e principalmente com o tempo: tempo político, tempo institucional, tempo escolar, e o tempo para amadurecimento das idéias. Gadotti cita alguns elementos facilitadores para o êxito de um projeto, são eles:
1º Uma comunicação eficiente. Um projeto deve ser factível e seu enunciado facilmente compreendido.
2º Adesão voluntária e consciente ao projeto. Todos precisam estar envolvidos. A co-responsabilidade é um fator decisivo no êxito de um projeto;
3º Bom suporte institucional e financeiro, que significa: vontade política, pleno conhecimento de todos - principalmente dos dirigentes - e recursos financeiros claramente definidos.
4º Controle, acompanhamento e avaliação do projeto. Um projeto que não pressupõe constante avaliação não consegue saber se seus objetivos estão sendo atingidos.
5º Uma atmosfera, um ambiente favorável. Não é desprezível um certo componente mágico-simbólico para o êxito de um projeto, um certa mística (ou ideologia) que cimenta a todos os que se envolvem no “design” de um projeto;
6º Credibilidade. As idéias podem ser boas, mas, se os que as defendem não tem prestígio, comprovada competência e legitimidade só pode obstaculizar o projeto.
7º Um bom referencial teórico que facilite encontrar os principais conceitos e a estrutura do projeto.

Juntando-se a esse referencial, surge a “escola cidadã”, uma alternativa à falência do ensino, sustentada pela integração entre educação e cultura, escola e comunidade. Uma realização concreta dos ideais da escola pública popular. Diante disso, Gadotti reafirma sua esperança numa transformação radical construída passo a passo na estrutura educacional. Que essa mudança possa realmente transformar “velhos” valores sociais, em novos valores que venham enriquecer substancialmente a sociedade, produzindo o verdadeiro formato do cidadão brasileiro.
R.Cássia Púlice
RIBEIRO, Vanda; GUSMÃO, J. B. B. . Vencendo o Desafio da Aprendizagem nas Séries Iniciais - A experiência de Sobral-CE. 2005.

Este texto, através do projeto “Boas Práticas na Educação” e a experiência de Sobral, vem demonstrar que é possível fazer um trabalho positivo na educação brasileira, principalmente quando o interesse de um todo não é suplantado ao de alguns.
O município de Sobral, no Ceará, uniu professores, alunos e a própria sociedade num movimento admirável em favor daqueles que precisavam aprender a ler e escrever, de modo que fizessem parte efetivamente do rol dos cidadãos brasileiros. Criou condições por meio de mudanças estruturais na prática e gestão do ensino com parcos recursos financeiros priorizando a educação infantil, isto é, a alfabetização nas séries iniciais.
Com base no direito à aprendizagem, no qual “Todas as crianças têm capacidade de aprender, independentemente de suas condições sociais”, foram criados três grandes pilares: mudança da prática pedagógica, fortalecimento da autonomia da escola e monitoramento dos resultados de aprendizagem com base em indicadores. Além do estabelecimento das metas:
1. Alfabetização do conjunto de crianças de 6 e 7 anos de idade.
2. Alfabetização, em caráter de correção, de todos os alunos de 2a a 6a
série que não sabem ler.
3. Regularização do fluxo escolar no ensino fundamental por meio de
ações que garantam as condições necessárias à aprendizagem.
4. Redução do abandono para percentual inferior a 5%.
5. Progressiva universalização e qualificação do atendimento da educação
infantil.
6. Reestruturação do sistema de ensino das séries terminais do ensino
fundamental.
7. Progressivo atendimento à alfabetização de todos os jovens e adultos
que ainda não sabem ler.
Na execução das estratégias da política de alfabetização, coube às
escolas a responsabilidade por:
• Fazer com que todos os alunos de 1a a 4a série passassem por
processos de avaliação externa da aprendizagem.
• Selecionar criteriosamente os professores que trabalhavam com
alunos em alfabetização.
• Oferecer os cuidados específicos e acordados com a Secretaria de
Educação para solucionar o problema dos alunos que, apesar de já
estarem cursando da 2a a 4a série, ainda não sabiam ler.
• Avaliar continuamente os resultados alcançados, com base em
indicadores.
• Acompanhar a execução do projeto pedagógico voltado para a
alfabetização dos alunos.
• Mobilizar as famílias, sobretudo para que se responsabilizassem
pela freqüência dos alunos às aulas e pelo acompanhamento de sua
aprendizagem na escola.
A Secretaria de Educação se responsabilizou por:
• Definir metas e diretrizes gerais.
• Disponibilizar às escolas os insumos necessários ao desenvolvimento
do projeto pedagógico.
• Promover formação continuada do professor alfabetizador para a
boa execução de seu trabalho.
• Oferecer incentivos financeiros às escolas e ao professor
alfabetizador.
• Fomentar a cultura do monitoramento nas escolas.
• Acompanhar os resultados alcançados pelas escolas por meio dos
indicadores selecionados.
• Contratar e coordenar, sistematicamente, o serviço de avaliação
externa da aprendizagem das crianças.
De modo a reforçar suas bases institucionais, a Secretaria de Educação agiu da seguinte forma:
1. Ampliou o ensino fundamental de oito para nove anos, a fim de
garantir a alfabetização de todos os alunos após dois anos de escolarização,
caso esta se iniciasse aos 6 anos de idade.
2. Nucleou as escolas da zona rural, buscando uma administração mais
eficiente da rede e o acesso de todas as crianças a uma melhor formação
educacional e cultural.
3. Fez um acordo com a Secretaria Estadual de Educação do Ceará
visando assumir, progressivamente, a responsabilidade pelo ensino
fundamental.
A rotina da sala de aula foi então reorganizada de modo que várias
atividades fossem realizadas de acordo com horários preestabelecidos,
norteadas por dez princípios:
1. A criança precisa falar.
2. A criança precisa agir.
3. A criança precisa brincar.
4. A criança precisa ter limites.
5. A criança precisa trabalhar em grupo.
6. A criança precisa desenhar.
7. A criança precisa ouvir histórias.
8. A criança precisa contar histórias.
9. A criança precisa ler e escrever.
10. A criança precisa ser estimulada.

“Com as novas estratégias, a rede municipal de educação de Sobral multiplicou por dois, pelo menos, sua capacidade de fazer com que as crianças das séries iniciais do ensino fundamental aprendam a ler e escrever; conseguiu matricular 100% das crianças de 7 anos de idade no ensino fundamental; e as taxas de distorção idade-série e de abandono caíram da 1a à 5a série.” (Assessoria de Imprensa do Inep)

Todos esses procedimentos, além do investimento na formação de professores, um incentivo salarial para os que alcançassem a meta estipulada, assim como o método de avaliação externa - a quebra de algumas resistências, entre outros fatores não menos importantes, permitiram que o trabalho produzisse resultados positivos. Isso mostra que a educação brasileira, pode sim, recuperar-se dos graves problemas pelos quais tem passado. Educar e "educar-se" ainda é a melhor solução.
R.Cássia Púlice

O Novo, de novo!

Quero algo novo, de novo!
Começar do zero, se possível,
Ou fazer tudo outra vez.
Fazer dos erros, acertos,
Crias novas perspectivas,
Ter esperanças na vida,
Em mim e em você.
Quero não medir o tempo,
Mesmo que seja passageiro,
Caminhar descalça na areia,
Sorrir sem medo de ofender.
Quero gritar o amor
Ao som dos ventos,
Pular de alegria, como criança.
Estender as mãos em confiança,
Ver filhos e netos crescer.
Quero o novo sonho de paz,
Quero a velha amizade sincera,
Como a pura magia da hera,
Que cresce procurando o céu.
Quero viver o mais lindo sonho,
E realizá-lo sem demora,
Mesmo que não marque hora,
E simplesmente aconteça.
Que seja um novo, tranqüilo,
Real, único e evidente,
De amor e paz, de verdade,
Que traga a nós, felicidade,
E a vida como um presente.

Rita de Cássia



R.Cássia Púlice

Origem e Curiosidades sobre o Ano-Novo
Você sabia que o ano-novo se consolidou na maioria dos países há 500 anos? Desde os calendários babilônicos (2.800 a.C.) até o calendário gregoriano, o réveillon mudou muitas vezes de data.
A primeira comemoração, chamada de "Festival de ano-novo" ocorreu na Mesopotâmia por volta de 2.000 a. C. Na Babilônia, a festa começava na ocasião da lua nova indicando o equinócio da primavera, ou seja, um dos momentos em que o Sol se aproxima da linha do Equador onde os dias e noites tem a mesma duração.
No calendário atual, isto ocorre em meados de março (mais precisamente em 19 de março, data que os espiritualistas comemoram o ano-novo esotérico).
Os assírios, persas, fenícios e egípcios comemoravam o ano-novo no mês de setembro (dia 23). Já os gregos, celebravam o início de um novo ciclo entre os dias 21 ou 22 do mês de dezembro.
Os romanos foram os primeiros a estabelecerem um dia no calendário para a comemoração desta grande festa (753 a.C. - 476 d.C.) O ano começava em 1º de março, mas foi trocado em 153 a. C. para 1º de janeiro e mantido no calendário juliano, adotado em 46 a. C. Em 1582 a Igreja consolidou a comemoração, quando adotou o calendário gregoriano.
Alguns povos e países comemoram em datas diferentes. Ainda hoje, na China, a festa da passagem do ano começa em fins de janeiro ou princípio de fevereiro. Durante os festejos, os chineses realizam desfiles e shows pirotécnicos. No Japão, o ano-novo é comemorado do dia 1º de janeiro ao dia 3 de janeiro.
A comunidade judaica tem um calendário próprio e sua festa de ano-novo ou Rosh Hashaná, - "A festa das trombetas" -, dura dois dias do mês Tishrê, que ocorre em meados de setembro ao início de outubro do calendário gregoriano. Para os islâmicos, o ano-novo é celebrado em meados de maio, marcando um novo início. A contagem corresponde ao aniversário da Hégira (em árabe, emigração), cujo Ano Zero corresponde ao nosso ano de 622, pois nesta ocasião, o profeta Maomé, deixou a cidade de Meca estabelecendo-se em Medina.
Contagem decrescente os últimos minutos do dia 31 de Dezembro seja: 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1. Feliz 2004!!!!!! A passagem de Ano Novo é o fim de um ciclo, início de outro. É um momento sempre cheio de promessas. E os rituais alimentam os nossos sonhos e dão vida às nossas celebrações. Na passagem de Ano Novo, não podemos deixar de aproveitar a oportunidade para enchermos o coração de esperança e começar tudo de novo. E para que a festa corra muito bem, há algumas tradições e rituais que não podemos esquecer...
- Fogos e barulho. No mundo inteiro o Ano Novo começa entre fogos de artifício, buzinadas, apitos e gritos de alegria. A tradição é muito antiga e, dizem, serve para espantar os maus espíritos. As pessoas reúnem-se para celebrar a festa com muitos abraços.
- Roupa nova. Vestir uma peça de roupa que nunca tenha sido usada combina com o espírito de renovação do Ano Novo. O costume é universal e aparece em várias versões, como trocar os lençóis da cama e usar uma roupa de baixo nova. 




Origem do Ano Novo
As comemorações de Ano Novo variam de cultura a cultura, mas universalmente a entrada do ano é festejada mesmo em diferentes datas.
O nosso calendário é originário dos romanos com a contagem dos dias, meses e anos. Desde o começo do século XVI, o Ano Novo era festejado em 25 de Março, data que marcava a chegada da primavera.
As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1º de Abril. O Papa Gregório XIII instituiu o 1º de Janeiro como o primeiro dia do ano, mas alguns franceses resistiram à mudança e quiseram manter a tradição. Só que as pessoas passaram a pregar partidas e ridicularizar os conservadores, enviando presentes estranhos e convites para festas que não existiam. Assim, nasceu o Dia da Mentira, que é a falsa comemoração do Ano Novo.
Tradições de Ano Novo no mundo:
Itália: O ano novo é a mais pagã das festas, sendo recebido com Fogos de artifícios, que deixam todas as pessoas acordadas. Dizem que os que dormem na virada do ano dormirão todo o ano e na noite de São Silvestre, santo cuja festa coincide com o último dia do ano. Em várias partes do país, dois pratos são considerados essenciais. O pé de porco e as lentilhas. Os italianos se reúnem na Piazza Navona, Fontana di Trevi, Trinitá dei Monit e Piazza del Popolo.

Estados Unidos: A mais famosa passagem de Ano Novo nos EUA é em Nova Iorque, na Time Square, onde o povo se encontra para beber, dançar, correr e gritar. Há pessoas de todas as idades e níveis sociais. Durante a contagem regressiva, uma grande maçã vai descendo no meio da praça e explode exactamente à meia-noite, jogando balas e bombons para todos os lados.
Austrália: Em Sydney, uma das mais importantes cidades australianas, três horas antes da meia-noite, há uma queima de fogos na frente da Opera House e da Golden Bridge, o principal cartão postal da cidade. Para assistir ao espectáculo, os australianos se juntam no porto. Depois, recolhem-se a suas casas para passar a virada do ano com a família e só retornam às ruas na madrugada, quando os principais destinos são os “pubs” e as praias.
França: O principal ponto é a avenida Champs-Elysées, em Paris, próximo ao Arco do Triunfo. Os franceses assistem à queima de fogos, cada um com sua garrafa de champanhe (para as crianças sumos e refrigerantes). Outros vão ver a saída do Paris-Dacar, no Trocadéro, que é marcada para a meia-noite. Outros costumam ir às festas em hotéis.
Brasil: No Rio de Janeiro, precisamente na praia de Copacabana, onde a passagem do Ano Novo reúne milhares de pessoas para verem os fogos de artifício. As tradições consistem em usar branco e jogar flores para “Yemanjá”, rainha do mar para os brasileiros.
Inglaterra: Grande parte dos londrinos passa a meia-noite em suas casas, com a família e amigos. Outros vão à Trafalgar Square, umas das praças mais belas da cidade, à frente do National Gallery. Lá, assistem à queima de fogos. Depois, há festas em várias sítios da cidade.
Alemanha: As pessoas reúnem-se no Portal de Brandemburgo, no centro, perto de onde ficava o Muro de Berlim. Tradicionalmente, não há fogos de artificio.
Curiosidade: Em Macau, e para todos os chineses do mundo, o maior festival do ano é o Novo Ano Chinês. Ele é comemorado entre 15 de Janeiro e 15 de Fevereiro de acordo com a primeira lua nova depois do início do Inverno. Lá é habitual limparem as casas e fazerem muita comida (Bolinhos Chineses de Ano Novo - Yau Gwok, símbolo de prosperidade). Há muitos fogos de artifício e as ruas ficam cobertas de pequenos pedaços de papel vermelho.
Cada cultura comemora seu Ano Novo. Os muçulmanos têm seu próprio calendário que se chama “Hégira”, que começou no ano 632 d.C. do nosso calendário. A passagem do Ano Novo também tem data diferente – 6 de Junho, foi quando o mensageiro Mohammad fez a sua peregrinação de despedida a Meca.
As comemorações do Ano Novo judaico, chamado “Rosh Hashanah”. É uma festa móvel no mês de Setembro (este ano foi 6 de Setembro). As festividades são para a chegada do ano 5763 e são a oportunidade para se deliciar com as tradicionais receitas judaicas: o “Chalah”, uma espécie de pão e além do pão, é costume sempre se comer peixe porque ele nada sempre para frente.
O primeiro dia do ano é dedicado à confraternização. É o Dia da Fraternidade Universal. É hora de pagar as dívidas e devolver tudo que se pediu emprestado ao longo do ano. Esse gesto reflecte a nossa necessidade de fazer um balanço da vida e de começar o ano com as contas acertadas.
Tradições Portuguesas:
As pessoas valorizam muito a festa de Ano Novo, porque sentem o desejo de se renovar. Uma das nossas tradições é sair às janelas de casas batendo panelas para festejar a chegada do novo ano. Nos dias 25 de Dezembro e 1º de Janeiro, costumamos comer uma mistura feita com as sobras das ceias, que são levadas ao forno. O ingrediente principal da chamada “Roupa Velha” é o bacalhau cozido, com ovos, cebola e batatas, regados a azeite.
Para as superstições, comer 12 passas durante as 12 badaladas na virada do ano traz muita sorte, assim como subir numa cadeira com uma nota (dinheiro) em uma das mãos. Em várias zonas do litoral, há pessoas que mesmo no frio do Inverno conseguem entrar na água e saudar o Ano Novo.
R.Cássia Púlice
R.Cássia Púlice
O homem é um desbravador por natureza, já nasce com a árdua missão de conquistar a própria vida. Sua luta começa ao sair do ventre materno, quando consegue respirar e manter-se longe da aconchegante e protetora muralha uterina. Depois vem as descobertas do seu próprio eu, as primeiras palavras, os primeiros passos, o aprendizado e a sobrevivência.
Com o passar dos dias, meses, e anos, como uma aventura, tudo fica mais difícil, cada passo dado, literalmente é uma vitória alcançada. Somos impelidos a aprender sempre mais e a lutar por um lugar ao sol. Lugar que já temos reservado, mas que só nos pertencerá se realmente o conquistarmos e merecermos.
O conflito entre o querer e não poder, o combate ao desânimo, à sensação de impotência, incapacidade e exaustão, o embate aos sofrimentos impostos pelo dia-a-dia, gera muitas vezes angústia e até mesmo a depressão, fazendo com que deixemos de realizar nossos sonhos e atingir nossos objetivos. E justamente nesse momento devemos reunir todas as nossas forças, nos munirmos de fé, coragem, e vencer esse grande desafio. Essa batalha, talvez seja uma das mais difíceis, pois depende do sucesso de todas as outras, e de uma específica, a vitória sobre nós mesmos, nossa maior e mais importante conquista.
O homem é também um sonhador, pois sonha até mesmo acordado viajando por vezes em seu subconsciente tentando alcançar seus objetivos mais recônditos. Juntar o desbravador ao sonhador é o que fará a diferença. Somando-se a fé,essa vontade incondicional, juntos farão o combustível necessário para converter em garra esse ímpeto de vencer, de chegar onde queremos, realizar nossos sonhos e, enfim gritarmos ao mundo: Consegui, venci minha primeira batalha, conquistei meu lugar e o direito de continuar lutando pela vida!


R.Cássia
(05/12/07)
R.Cássia Púlice
Construir um planejamento educacional nos dias de hoje não é tarefa fácil diante dos inúmeros problemas que perpassa o país e a própria educação. Estamos limitados às políticas sociais restritivas, tendo que lidar com problemas sociais abrangentes.

O ideal ao pensarmos o planejamento seria poder unir vários setores de interesses para o cidadão dentro do complexo educacional, de forma que pudéssemos atingir os diferentes universos ligados a escola, podendo efetivamente contribuir para o desenvolvimento do ser humano como um todo, além de adequar a realidade de cada um a sua unidade de ensino.

Um planejamento educacional deve conter um projeto educativo bem estruturado, que possa ter a participação de vários agentes sociais e da própria sociedade, de maneira que contribua na organização, e no resultado final, como somatório dos interesses fundamentais em prol do progresso desejado.

Repensar a escola, seus espaços físicos, apropriando-os adequadamente; organizando e atualizando suas bibliotecas; formulando novas diretrizes curriculares; orientando e qualificando seus professores; dimensionando os setores administrativos, entre outros, também se faz necessário. Como também e principalmente, introduzir uma proposta social / pedagógica para dar aos estudantes e professores condições de se integrarem ao ambiente escolar, despertando interesses em sala de aula, para que solidifiquem o emprenho na busca pelo conhecimento.

Deparamo-nos hoje com um quadro difícil, complexo e um tanto quanto assustador, mas não impossível de ser mudado. Há que se investir em novas perspectivas, instigar consciências, fomentar superação. Mas, acima de tudo, requer estimular o empenho, criar interesses, desenvolver habilidades e condições favoráveis para essa transformação. Trabalho árduo que só se tornará possível, obviamente, reunindo-se forças em junção a um bom planejamento educacional.



R.Cássia Púlice
CONTO DE ESCOLA

Machado de Assis

A escola era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia - uma segunda-feira, do mês de maio - deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de Sant'Ana, que não era então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito, alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou campo? Tal era o problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola. Aqui vai a razão.

Na semana anterior tinha feito dois suetos, e, descoberto o caso, recebi o pagamento das mãos de meu pai, que me deu uma sova de vara de marmeleiro. As sovas de meu pai doíam por muito tempo. Era um velho empregado do Arsenal de Guerra, ríspido e intolerante. Sonhava para mim uma grande posição comercial, e tinha ânsia de me ver com os elementos mercantis, ler, escrever e contar, para me meter de caixeiro. Citava-me nomes de capitalistas que tinham começado ao balcão. Ora, foi a lembrança do último castigo que me levou naquela manhã para o colégio. Não era um menino de virtudes.

Subi a escada com cautela, para não ser ouvido do mestre, e cheguei a tempo; ele entrou na sala três ou quatro minutos depois. Entrou com o andar manso do costume, em chinelas de cordovão, com a jaqueta de brim lavada e desbotada, calça branca e tesa e grande colarinho caído. Chamava-se Policarpo e tinha perto de cinqüenta anos ou mais. Uma vez sentado, extraiu da jaqueta a boceta de rapé e o lenço vermelho, pô-los na gaveta; depois relanceou os olhos pela sala. Os meninos, que se conservaram de pé durante a entrada dele, tornaram a sentar-se. Tudo estava em ordem; começaram os trabalhos.

- Seu Pilar, eu preciso falar com você, disse-me baixinho o filho do mestre.

Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinqüenta minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a isso um grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco.

- O que é que você quer?

- Logo, respondeu ele com voz trêmula.

Começou a lição de escrita. Custa-me dizer que eu era dos mais adiantados da escola; mas era. Não digo também que era dos mais inteligentes, por um escrúpulo fácil de entender e de excelente efeito no estilo, mas não tenho outra convicção. Note-se que não era pálido nem mofino: tinha boas cores e músculos de ferro. Na lição de escrita, por exemplo, acabava sempre antes de todos, mas deixava-me estar a recortar narizes no papel ou na tábua, ocupação sem nobreza nem espiritualidade, mas em todo caso ingênua. Naquele dia foi a mesma coisa; tão depressa acabei, como entrei a reproduzir o nariz do mestre, dando-lhe cinco ou seis atitudes diferentes, das quais recordo a interrogativa, a admirativa, a dubitativa e a cogitativa. Não lhes punha esses nomes, pobre estudante de primeiras letras que era; mas, instintivamente, dava-lhes essas expressões. Os outros foram acabando; não tive remédio senão acabar também, entregar a escrita, e voltar para o meu lugar.

Com franqueza, estava arrependido de ter vindo. Agora que ficava preso, ardia por andar lá fora, e recapitulava o campo e o morro, pensava nos outros meninos vadios, o Chico Telha, o Américo, o Carlos das Escadinhas, a fina flor do bairro e do gênero humano. Para cúmulo de desespero, vi através das vidraças da escola, no claro azul do céu, por cima do morro do Livramento, um papagaio de papel, alto e largo, preso de uma corda imensa, que bojava no ar, uma coisa soberba. E eu na
escola, sentado, pernas unidas, com o livro de leitura e a gramática nos joelhos.

- Fui um bobo em vir, disse eu ao Raimundo.

- Não diga isso, murmurou ele.

Olhei para ele; estava mais pálido. Então lembrou-me outra vez que queria pedir-me alguma coisa, e perguntei-lhe o que era. Raimundo estremeceu de novo, e, rápido, disse-me que esperasse um pouco; era uma coisa particular.

- Seu Pilar... murmurou ele daí a alguns minutos.

- Que é?

- Você...

- Você quê?

Ele deitou os olhos ao pai, e depois a alguns outros meninos. Um destes, o Curvelo, olhava para ele, desconfiado, e o Raimundo, notando-me essa circunstância, pediu alguns minutos mais de espera. Confesso que começava a arder de curiosidade. Olhei para o Curvelo, e vi que parecia atento; podia ser uma simples curiosidade vaga, natural indiscrição; mas podia ser também alguma coisa entre eles. Esse Curvelo era um pouco levado do diabo. Tinha onze anos, era mais velho que nós.

Que me quereria o Raimundo? Continuei inquieto, remexendo-me muito, falando-lhe baixo, com instância, que me dissesse o que era, que ninguém cuidava dele nem de mim. Ou então, de tarde...

- De tarde, não, interrompeu-me ele; não pode ser de tarde.

- Então agora...

- Papai está olhando.

Na verdade, o mestre fitava-nos. Como era mais severo para o filho, buscava-o muitas vezes com os olhos, para trazê-lo mais aperreado. Mas nós também éramos finos; metemos o nariz no livro, e continuamos a ler. Afinal cansou e tomou as folhas do dia, três ou quatro, que ele lia devagar, mastigando as idéias e as paixões. Não esqueçam que estávamos então no fim da Regência, e que era grande a agitação pública. Policarpo tinha decerto algum partido, mas nunca pude averiguar esse ponto. O pior que ele podia ter, para nós, era a palmatória. E essa lá estava, pendurada do portal da janela, à direita, com os seus cinco olhos do diabo. Era só levantar a mão, despendurá-la e brandi-la, com a força do costume, que não era pouca. E daí, pode ser que alguma vez as paixões políticas dominassem nele a ponto de poupar-nos uma ou outra correção. Naquele dia, ao menos, pareceu-me que lia as folhas com muito interesse; levantava os olhos de quando em quando, ou tomava uma pitada, mas tornava logo aos jornais, e lia a valer.

No fim de algum tempo - dez ou doze minutos - Raimundo meteu a mão no bolso das calças e olhou para mim.

- Sabe o que tenho aqui?

- Não.

- Uma pratinha que mamãe me deu.

- Hoje?

- Não, no outro dia, quando fiz anos...

- Pratinha de verdade?

- De verdade.

Tirou-a vagarosamente, e mostrou-me de longe. Era uma moeda do tempo do rei, cuido que doze vinténs ou dois tostões, não me lembro; mas era uma moeda, e tal moeda que me fez pular o sangue no coração. Raimundo revolveu em mim o olhar pálido; depois perguntou-me se a queria para mim. Respondi-lhe que estava caçoando, mas ele jurou que não.

- Mas então você fica sem ela?

- Mamãe depois me arranja outra. Ela tem muitas que vovô lhe deixou, numa caixinha; algumas são de ouro. Você quer esta?

Minha resposta foi estender-lhe a mão disfarçadamente, depois de olhar para a mesa do mestre. Raimundo recuou a mão dele e deu à boca um gesto amarelo, que queria sorrir. Em seguida propôs-me um negócio, uma troca de serviços; ele me daria a moeda, eu lhe explicaria um ponto da lição de sintaxe. Não conseguira reter nada do livro, e estava com medo do pai. E concluía a proposta esfregando a pratinha nos joelhos...

Tive uma sensação esquisita. Não é que eu possuísse da virtude uma idéia antes própria de homem; não é também que não fosse fácil em empregar uma ou outra mentira de criança. Sabíamos ambos enganar ao mestre. A novidade estava nos termos da proposta, na troca de lição e dinheiro, compra franca, positiva, toma lá, dá cá; tal foi a causa da sensação. Fiquei a olhar para ele, à toa, sem poder dizer nada.

Compreende-se que o ponto da lição era difícil, e que o Raimundo, não o tendo aprendido, recorria a um meio que lhe pareceu útil para escapar ao castigo do pai. Se me tem pedido a coisa por favor, alcançá-la-ia do mesmo modo, como de outras vezes, mas parece que era lembrança das outras vezes, o medo de achar a minha vontade frouxa ou cansada, e não aprender como queria, - e pode ser mesmo que em alguma ocasião lhe tivesse ensinado mal, - parece que tal foi a causa da proposta. O pobre-diabo contava com o favor, - mas queria assegurar-lhe a eficácia, e daí recorreu à moeda que a mãe lhe dera e que ele guardava como relíquia ou brinquedo; pegou dela e veio esfregá-la nos joelhos, à minha vista, como uma tentação... Realmente, era bonita, fina, branca, muito branca; e para mim, que só trazia cobre no bolso, quando trazia alguma coisa, um cobre feio, grosso, azinhavrado...

Não queria recebê-la, e custava-me recusá-la. Olhei para o mestre, que continuava a ler, com tal interesse, que lhe pingava o rapé do nariz. - Ande, tome, dizia-me baixinho o filho. E a pratinha fuzilava-lhe entre os dedos, como se fora diamante... Em verdade, se o mestre não visse nada, que mal havia? E ele não podia ver nada, estava agarrado aos jornais, lendo com fogo, com indignação...

- Tome, tome...

Relancei os olhos pela sala, e dei com os do Curvelo em nós; disse ao Raimundo que esperasse. Pareceu-me que o outro nos observava, então dissimulei; mas daí a pouco deitei-lhe outra vez o olho, e - tanto se ilude a vontade! - não lhe vi mais nada. Então cobrei ânimo.

- Dê cá...

Raimundo deu-me a pratinha, sorrateiramente; eu meti-a na algibeira das calças, com um alvoroço que não posso definir. Cá estava ela comigo, pegadinha à perna. Restava prestar o serviço, ensinar a lição e não me demorei em fazê-lo, nem o fiz mal, ao menos conscientemente; passava-lhe a explicação em um retalho de papel que ele recebeu com cautela e cheio de atenção. Sentia-se que despendia um esforço cinco ou seis vezes maior para aprender um nada; mas contanto que ele escapasse ao castigo, tudo iria bem.

De repente, olhei para o Curvelo e estremeci; tinha os olhos em nós, com um riso que me pareceu mau. Disfarcei; mas daí a pouco, voltando-me outra vez para ele, achei-o do mesmo modo, com o mesmo ar, acrescendo que entrava a remexer-se no banco, impaciente. Sorri para ele e ele não sorriu; ao contrário, franziu a testa, o que lhe deu um aspecto ameaçador. O coração bateu-me muito.

- Precisamos muito cuidado, disse eu ao Raimundo.

- Diga-me isto só, murmurou ele.

Fiz-lhe sinal que se calasse; mas ele instava, e a moeda, cá no bolso, lembrava-me o contrato feito. Ensinei-lhe o que era, disfarçando muito; depois, tornei a olhar para o Curvelo, que me pareceu ainda mais inquieto, e o riso, dantes mau, estava agora pior. Não é preciso dizer que também eu ficara em brasas, ansioso que a aula acabasse; mas nem o relógio andava como das outras vezes, nem o mestre fazia caso da escola; este lia os jornais, artigo por artigo, pontuando-os com exclamações, com gestos de ombros, com uma ou duas pancadinhas na mesa. E lá fora, no céu azul, por cima do morro, o mesmo eterno papagaio, guinando a um lado e outro, como se me chamasse a ir ter com ele. Imaginei-me ali, com os livros e a pedra embaixo da mangueira, e a pratinha no bolso das calças, que eu não daria a ninguém, nem que me serrassem; guardá-la-ia em casa, dizendo a mamãe que a tinha achado na rua. Para que me não fugisse, ia-a apalpando, roçando-lhe os dedos pelo cunho, quase lendo pelo tato a inscrição, com uma grande vontade de espiá-la.

- Oh! seu Pilar! bradou o mestre com voz de trovão.

Estremeci como se acordasse de um sonho, e levantei-me às pressas. Dei com o mestre, olhando para mim, cara fechada, jornais dispersos, e ao pé da mesa, em pé, o Curvelo. Pareceu-me adivinhar tudo.

- Venha cá! bradou o mestre.

Fui e parei diante dele. Ele enterrou-me pela consciência dentro um par de olhos pontudos; depois chamou o filho. Toda a escola tinha parado; ninguém mais lia, ninguém fazia um só movimento. Eu, conquanto não tirasse os olhos do mestre, sentia no ar a curiosidade e o pavor de todos.

- Então o senhor recebe dinheiro para ensinar as lições aos outros? disse-me o Policarpo.

- Eu...

- Dê cá a moeda que este seu colega lhe deu! clamou.

Não obedeci logo, mas não pude negar nada. Continuei a tremer muito. Policarpo bradou de novo que lhe desse a moeda, e eu não resisti mais, meti a mão no bolso, vagarosamente, saquei-a e entreguei-lha. Ele examinou-a de um e outro lado, bufando de raiva; depois estendeu o braço e atirou-a à rua. E então disse-nos uma porção de coisas duras, que tanto o filho como eu acabávamos de praticar uma ação feia, indigna, baixa, uma vilania, e para emenda e exemplo íamos ser castigados. Aqui pegou da palmatória.

- Perdão, seu mestre... solucei eu.

- Não há perdão! Dê cá a mão! Dê cá! Vamos! Sem-vergonha! Dê cá a mão!

- Mas, seu mestre...

- Olhe que é pior!

Estendi-lhe a mão direita, depois a esquerda, e fui recebendo os bolos uns por cima dos outros, até completar doze, que me deixaram as palmas vermelhas e inchadas. Chegou a vez do filho, e foi a mesma coisa; não lhe poupou nada, dois, quatro, oito, doze bolos. Acabou, pregou-nos outro sermão. Chamou-nos sem-vergonhas, desaforados, e jurou que se repetíssemos o negócio apanharíamos tal castigo que nos havia de lembrar para todo o sempre. E exclamava: Porcalhões! tratantes! faltos de brio!

Eu, por mim, tinha a cara no chão. Não ousava fitar ninguém, sentia todos os olhos em nós. Recolhi-me ao banco, soluçando, fustigado pelos impropérios do mestre. Na sala arquejava o terror; posso dizer que naquele dia ninguém faria igual negócio. Creio que o próprio Curvelo enfiara de medo. Não olhei logo para ele, cá dentro de mim jurava quebrar-lhe a cara, na rua, logo que saíssemos, tão certo como três e dois serem cinco.

Daí a algum tempo olhei para ele; ele também olhava para mim, mas desviou a cara, e penso que empalideceu. Compôs-se e entrou a ler em voz alta; estava com medo. Começou a variar de atitude, agitando-se à toa, coçando os joelhos, o nariz. Pode ser até que se arrependesse de nos ter denunciado; e na verdade, por que denunciar-nos? Em que é que lhe tirávamos alguma coisa?

- Tu me pagas! tão duro como osso! dizia eu comigo.

Veio a hora de sair, e saímos; ele foi adiante, apressado, e eu não queria brigar ali mesmo, na Rua do Costa, perto do colégio; havia de ser na Rua larga São Joaquim. Quando, porém, cheguei à esquina, já o não vi; provavelmente escondera-se em algum corredor ou loja; entrei numa botica, espiei em outras casas, perguntei por ele a algumas pessoas, ninguém me deu notícia. De tarde faltou à escola.

Em casa não contei nada, é claro; mas para explicar as mãos inchadas, menti a minha mãe, disse-lhe que não tinha sabido a lição. Dormi nessa noite, mandando ao diabo os dois meninos, tanto o da denúncia como o da moeda. E sonhei com a moeda; sonhei que, ao tornar à escola, no dia seguinte, dera com ela na rua, e a apanhara, sem medo nem escrúpulos...

De manhã, acordei cedo. A idéia de ir procurar a moeda fez-me vestir depressa. O dia estava esplêndido, um dia de maio, sol magnífico, ar brando, sem contar as calças novas que minha mãe me deu, por sinal que eram amarelas. Tudo isso, e a pratinha... Saí de casa, como se fosse trepar ao trono de Jerusalém. Piquei o passo para que ninguém chegasse antes de mim à escola; ainda assim não andei tão depressa que amarrotasse as calças. Não, que elas eram bonitas! Mirava-as, fugia aos encontros, ao lixo da rua...

Na rua encontrei uma companhia do batalhão de fuzileiros, tambor à frente, rufando. Não podia ouvir isto quieto. Os soldados vinham batendo o pé rápido, igual, direita, esquerda, ao som do rufo; vinham, passaram por mim, e foram andando. Eu senti uma comichão nos pés, e tive ímpeto de ir atrás deles. Já lhes disse: o dia estava lindo, e depois o tambor... Olhei para um e outro lado; afinal, não sei como foi, entrei a marchar também ao som do rufo, creio que cantarolando alguma coisa: Rato na casaca... Não fui à escola, acompanhei os fuzileiros, depois enfiei pela Saúde, e acabei a manhã na Praia da Gamboa. Voltei para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no bolso nem ressentimento na alma. E contudo a pratinha era bonita e foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação; mas o diabo do tambor...